Tudo é ousado para quem nada se atreve, disse meu poeta
preferido – Fernando Pessoa. E eu depois de ...maduro, por assim dizer, decidi
me aventurar por campos nunca dantes percorridos por mim. Talvez esteja à
recherche du temps perdu, talvez esteja em fuga mesmo – sei lá. Mas mudanças
são como os círculos que surgem quando jogamos uma pedra no lago – imprevisíveis,
não sabemos onde terminarão. Decidi mudar o rumo estático de minha vida
profissional – e estou enlouquecendo, com um milhão de ideias simultâneas.
Plano A, Plano B, Plano C, Plano Ypisilone, tudojuntoaomesmotempoagora. E
estou despejando uma energia imensa em minha cozinha, executando pratos que nunca fiz em minha vida – doces, tortas,
biscoitos, bolos fofíssimos,
praticamente uma Tia Anastácia de barbas grisalhas. Esta semana aventurei-me
em duas receitas novas para mim, no período de curto tempo. A primeira, uma
Torta de Chocolate e Morangos, da Fer Guimarães Rosa – pausa: eu acho que a
detesto (a Fer,não a torta), e não confesso. Tudo o que esta mulher faz e mostra
em seu blog é irritantemente desejável, de suas saladas perfeitas às tortas e
bolos, ilustrados com fotos perfeitas de seu fornecedor de orgânicos, seus
pratos floridos, parecem ter saído do blog do Todd Selby – voltando... cuja
receita você encontra aqui. Uma receita fácil, de sabor intenso – no meu caso,
reforçado por uma caldinha de mel de laranjeira que usei para dar um brilho nos
morangos, que casou perfeitamente com o ligeiro amargor do chocolate. Terminei-a
tarde da noite, e ela fez uma duplinha perfeita com um chá Oolong que trouxe de
Shanghai. Enquanto admirava minha obra,
e sentia o perfume amadeirado do chá
exalando, pensei – estou ficando velho...quem em sã consciência cismaria de
fazer uma torta às 10 da noite, depois de trabalhar o dia inteiro?
Ainda sobrava um pedacinho solitário desta torta na
geladeira dias depois, quando decidi me aventurar numa de minhas tortas preferidas – Apple
Pie - novamente as 21h30m... Procurei a receita que mais se aproximava do que eu achava que seria a
torta perfeita, e confesso que não sei de quem é esta receita – estava anotada
em meu IPad, sinal de que esta foi
retirada da rede, e desculpe-me o autor não creditado, mas segue a receita
abaixo. E embevecido admito – a torta saiu muito próxima às melhores tortas de
maçã que comi na Big Apple, um pouco mais baixa do que as lá servidas, pois a
forma disponível era um pouco maior do que o recomendado, mas mesmo assim de
recheio untuoso e massa muito, bastante leve.
(olha que recheio...)
Estou lendo horrores, arrumando a casa, pensando
num projeto futuro, pensando em voltar a estudar, e cozinhando intensamente. Definitivamente, a
recherche du temps perdu...
apple pie
2 e 1/2 xícaras de farinha peneirada
1 colher de chá de sal
200 gramas de manteiga sem sal (temperatura ambiente)
100 ml de água gelada
1 kg de maçãs Granny Smith sem cascas e sementes
suco de 1 limão
3/4 de xícara de açúcar refinado
1/4 de xícara de açúcar mascavo
3 colheres de sopa de farinha de trigo
noz moscada ralada
canela em pó
1 gema
1 colher de sopa de leite gelado
Misture o sal e a farinha de trigo, acrescente a manteiga em pedaços, misture e adicione a água gelada aos poucos, até obter uma massa homogênea. Cubra-a com filme plástico e deixe na geladeira por 20 minutos.
Pique as maçãs em pedaços médios, e cozinhe com os demais ingredientes por 10 minutos. Reserve e espere esfriar para usa-la.
Enfarinhe uma superfície lisa e abra a massa com o rolo, até ficar bem fina. Dobre em 3 partes no sentido da largura e ao meio no sentido do comprimento, como um retângulo, e novamente abra a massa com o rolo. corte em dois círculos, um maior para a base, e outro para a cobertura.
Coloque a massa na forma, recheie com as maçãs já frias, cubra com a massa e pincele com a gema batida no leite. leve ao forno pré-aquecido a 180 graus por 40 minutos.