food, art & spirits

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domingo, 17 de abril de 2011

God Give Me Strength



Armani Caffe, Milano. Ao meu lado, uma periguete profissional de micro-shorts jeans, meias rendadas e botas de saltos altíssimos me lança olhares de taxímetro. Incauta...Pelo fato de estar jantando solo, ela deve ter deduzido que vim aqui para traçar outro tipo de iguaria. No, grazzie. Vim apenas para matar a fome, a caminho do hotel.
A iluminação é bastante avermelhada, quente, e a música suave é ótima, ligeiramente orientalizada com uma pegada bossa nova.
Espero´que a comida não seja "fusion" como a trilha sonora...Peço uma água sem gás e uma taça de excelente pinot noir, enquanto olho o cardápio. Estou tentando perder alguns relevos em minha silhueta, até agora sem sucesso. E a cesta de grissini e pães à minha frente não ajuda em nada. Digo minha escolha à atendente, uma Costoletta di Vitello Alla Milanesa com Pomodorini I Rucola, no meu melhor italiano, intensificado pelos dois dias nesta cidade. A loirinha aguada me responde que "é frito"...Questiono se existe este prato feito de outra forma, mas a americaninha fazendo estágio na cidade, e na condição de garçonete, não assimila minha ironia. Recusei uma entrada que prometia, um flã de alho poró, pois vi Panna Cotta na lista de sobremesas, e afinal estou de regime - ou sobremesa, ou entrada.
Bem, a carne está muito boa, já pomodorini é quase um exagero, vieram dois tomatinhos cortados pela metade que quase não configuram o plural citado na receita. Como o vinho acabou, tenho que implorar para a Jenniffer (deve se chamar assim) que me traga outra taça. Ela sorri cada vez que insisto, mas não conhece a fúria de um homem jantando sozinho e quase engasgado com as lascas de sal marinho não moídos que salpicaram no prato, desequilibrando um pouco o conjunto - tinha partes sem sal e outras salgadíssimas.

Enquanto espero a sobremesa, arriva um ragazzo molto bello, alto, magro (raiva) e cabeludo (raiva 2) para suprir a saída da perigueti. Ele está com uma calça tão baixa que mostra metade de seu derrière descoberto - ou seja, taxímetro a vista again. Chegou sozinho, tipo " não sei de onde veio, mas está claro onde quer chegar". Clara e seguramente sonda o ambiente antes de sentar e sua atenção recai sobre mim. Este, ao contrário da outra profissional, tem um senso de colocação do produto no mercado mais adequado, se é que você me entende. Traço a sobremesa,

que estava ligeiramente torta mas muito saborosa, e caio fora antes que a conta aumente. Não a do restaurante, mas a dos "serviços paralelos", por assim dizer. Total da conta - ¢54. Por enquanto, está barato. So, God Give me Strength. Fui.

2 comentários:

  1. Papai Urso do Interior18 de abril de 2011 às 06:39

    Há uma semana adquiri o bom hábito de te ler e já amo muito suas analogias entre gula e sexo, rsrsrs... Daria um conto f.d.p. chamado a periguete e o ragazzo aventureiro, rsrsrsrs... O olhar de taxímetro desses profissionais são realmente uma coisa, mas é bom que massageia o ego, rsrsrs...

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  2. Barato - mas não valia a pena, nem um nem outro "prato extra"? Afinal, é uma for a de perder calorias, não só dinheiro. Adoro seu blog!
    abs
    Giulio

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